Rocha Que Voa

Nome Original: Rocha Que Voa
Diretor: Eryk Rocha
Ano: 2002
País: Brasil e Cuba
Elenco: Glauber Rocha
Prêmio: Melhor Documentário da 7ª Edição do Festival É Tudo Verdade e do Grande Prêmio Brasil de Cinema.
Rocha que Voa (2002) on IMDb
Glauber nos deixou mais do que um cinema revolucionário, filmes memoráveis e grandes prêmios para a nossa estante. Do relacionamento com a também cineasta colombiana Paula Gaitán, Glauber teve dois filhos: Ava e Eryk. Eryk desaflorou e seguiu o rumo de seu pai. E o faz com grande capacidade e habilidade, além de tocar em assuntos delicados com descrição, focando basicamente em um estudo antropológico da grande América Latina. E em "Rocha Que Voa", com um pano de fundo bem familiar. O próprio pai.

Glauber Rocha viveu em Cuba apenas dois anos - 1971 e 72 - porém a sua alma permanesce viva nas ruas do país de Fidel. Depoimentos colhidos por Eryk mostram o quanto o cinema de Glauber mantêm-se no inconsciente da população que teve, nem que seja pequeno, um contato com o cinema do brasileiro. Cuba vive na miséria que a utopia socialista não previu, porém o espírito revolucionário ainda está dentro da mente dos moradores da ilha inimiga do Tio Sam, que ainda aspiram o cinema e o espírito glauberiano. Eryk, que pouco viveu com seu pai, teve na confecção desse filme a descoberta de quem foi Glauber na sociedade e no mundo cinematográfico. Ver os companheiros de trabalho de seu pai durante o exílio certamente foi emocionante a ele. Para mim foi.

Com uma montagem poética, vemos o cinema de Glauber em Eryk, em um novo momento da cinematografia mundial, porém são claras as nuances que inspiram o filho caçula. Um momento duro na vida do cineasta consagrado sendo aberto ao público nesse documentário. O Brasil vive um grande momento de documentários, e esse consegue se destacar em uma montagem de imagens históricas com a voz do baiano nos inspirando, ensinando um pouco de política, poesia e cinema. O maior aluno, Eryk, aprendeu tudo direitinho. Glauber, onde ele estiver orgulha-se.

Veja trailer desse belo documentário:

Infelizmente no Brasil, Glauber não tem o costume de venerar seus ídolos. Não temos ídolos, fora os esportistas e figurões do cubo maldito. Pense em ídolos do nosso país. Acredito que o primeiro nome que venha à mente é Ayrton Senna, seguido de Silvio Santos. Quem mais? Cadê nossa memória a Milton Gonçalves, Noel Rosa, Zumbi dos Palmares? Cadê a nossa homenagem a Glauber Rocha? Não há uma rua, um viaduto, uma rodovia, um simples cinema com o nome do diretor baiano. E se houver, será algo esquecido, como a própria memória de Glauber (excluindo o mundo cinematográfico). Triste ver Cuba reconhecer mais do que nós um homem que lutou tanto para colocar o nome do Brasil no ponto alto do pódio, foi morto pelo próprio país. A repressão (por políticos que foram homenageados em várias rodovias, ruas e praças que passamos todos os dias) matou meu ídolo. Nosso ídolo.

Vitor Stefano
Sessões

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