O Gato do Rabino



Nome Original: Le Chat du Rabbin
Diretor: Antoine Delesvaux e Joann Sfar
Ano: 2011
País: França e Áustria
Elenco: François Morel, Hafsia Herzi, Maurice Bénichou, Daniel Cohen e Mathieu Amalric.
Prêmio: César de Melhor Animação.
O Gato do Rabino (2011) on IMDb

De que vale milhões se não há onde usar. De que vale a saúde se não se sabe viver. De que vale a história se não se sabe contar. De que vale a alma, se não há paraíso.




Num mundo de diferenças tão brutais, vemos uma Argel, nos anos 20, de paz e união entre os povos, com respeito acima de tudo, independente de religião. Somos apresentados à cidade pelas voltas de um gato sem nome, apenas sabemos que ele é o gato do Rabino Sfar, aliás, da filha dele, Zlabya, por quem é apaixonado. Depois de um surto por não aguentar ver aquele papagaio repetindo que amava sua dona, um rápido movimento e o penado foi engolido pelo gatinho. Como num passe de mágica ele deixa de falar apenas em pensamento para falar com todos, defendendo-se: “Não comi o papagaio”. Por mentir na primeira fala, o Rabino separa o gato de Zlabya por ser uma má influência à sua filha, que fica choramingando pelos cantos por saudades do bichano. Para conquistar a sua dona, o gato está disposto a se converter ao judaísmo e pede que haja seu Bar Mitzvá. O Rabino quer mesmo é passar num teste de francês para provar a sua capacidade em ser um Rabino de verdade. 

Tudo parece muito louco em muito pouco tempo, mas com as sucessões de acontecimentos, vemos que ainda está apenas começando. Ainda veremos católicos russos, muçulmanos, o rabino do rabino, a aparição de um Deus gato, Alá e Maomé. Tudo ainda pode ficar mais louco com a chegada de uma leva de livros religiosos em russo, com um morto dentro. Um morto que a todo o momento o gato nos diz que não está tão morto assim. Ao acordar, sabemos que é um russo e pintor, mas apenas o poliglota felino que pode conversar com ele. E por mais maluco que possa parecer ele está em busca da Jerusalém negra e não sossegará enquanto não encontra-la. Sim, é muita maluquice, mas em nenhum momento perde o ritmo ou a graça, e muito menos a força da mensagem máxima de “O Gato do Rabino” é a possibilidade de vermos igualdades onde pregam diferenças, de rir de assuntos que desgraçam os noticiários diariamente, de sorrir ao ver um gato apaixonado por sua dona, e fazendo de tudo para conquista-la. O amor pode estar em tudo, é só você querer ver. Questões religiosas, normalmente espinhentas, são tratadas enfaticamente com uma leveza, como se falássemos do sol que brilha lá fora. 


Diferentes das animações que vemos atualmente, com traços “soltos” que fazem questão de sempre nos deixar cientes que estamos diante de uma animação. Sem a perfeição comum para esse gênero, a grande graça está em vermos que tudo não passa de uma verdadeira fábula sobre um mundo moderno, sem preconceitos, sem diferenças e quando nos deparamos com elas, como enfrenta-las. Um sonho deixará de sê-lo apenas quando os pesadelos da vida nos encorajarem a agir. Pelos temas, podemos entender que é uma animação para adultos, mas é uma valiosa mensagem às crianças que vivem à deriva, em um mundo sem valores.

Vitor Stefano
Sessões

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