Flor do Deserto



Nome Original: Desert Flower
Diretora: Sherry Horman
Ano: 2009
País: Reino Unido, Alemanha e Austria.
Elenco: Liya Kebede e Sally Hawkings
Prêmio: Melhor Filme Europeu no Festival Internacional de San Sebastián (Premio da Audiência).
Flor do Deserto (2009) on IMDb



Não sei qual dor sentem, mas posso imaginar. Mas nem toda imaginação do mundo deve retratar o que realmente é perder o prazer. Não perder o prazer de fumar, de beber ou de rir da vida. É perder o prazer do prazer. Ser uma mulher, negra, nômade, vendida para um casamento, solitária e ainda ser “diferente” não é para qualquer uma. A vida não poderia ser tão dura para ninguém, nem para os nossos piores inimigos. Waris Dirie nos prova que apesar dos pesares é possível vencer num mundo onde absurdos como esses ainda são tolerados. Respeito todas as religiões, crenças e costumes, mas onde a intolerância, crueldade e barbárie imperarem eu não terei dó de emitir meu pesar e repúdio.  Mutilação genital é tortura. 



Só pelo enredo podemos entender sobre o que se trata o filme. Uma cinebiografia com todos os elementos possíveis e imaginários para se debruçar no melodrama fácil, mas com um tema tão duro, “Flor do Deserto” é um ótimo retrato do que é a vida da modelo Waris Dirie que teve aos 3 anos mutilação genital por conta de crenças dos chefes das aldeias onde morava. Você que não consegue imaginar a mutilação genital feminina? Ela consiste na retirada do clitóris e dos lábios vaginais e costurar a pele, deixando apenas o orifício para urinar. Para a pequena Waris isso é algo com qual vivia sem problemas, tirando as dores por conta da dificuldade de urinar, porém ao fugir da aldeia por conta do casamento arranjado, caminhou por todo o deserto para chegar em Mogadíscio, capital da Somália, para ser empregada dos cônsules de seu país em Londres. Lá ficou “trancada” por anos. A sua saída para as ruas foi agraciada por uma amizade irreal, o reconhecimento de sua beleza por um fotógrafo renomado e o início de sua carreira como modelo.
E todos viveram felizes para sempre.

Não.
 
Não há como viver feliz sabendo que outras milhares de crianças sofrem o mesmo que Waris sofreu e é essa a mensagem que “Flor do Deserto” e a modelo deixam com o relato de sua vida. Pode ser que nem tudo seja absolutamente fidedigno com a realidade, mas o filme conta de forma excelente o drama e a superação através da amizade, da força de vontade e da coragem de uma mulher que é modelo para todos os seres humanos. Com direção competente e uma montagem dinâmica, as idas e vindas do passado de Dirie deixam o filme envolvente e, como grande trunfo, não é apelativo. A história deve ser vista, mas é importante alertar que é uma história muito forte e que pode deixar até a mulher mais durona do mundo com certo pesar e dor.
Uma lição de vida.

Vitor Stefano
Sessões

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