Amor
Nome Original: Amour
Diretor: Michael Haneke
País: França, Alemanha e Austria
Elenco: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva e
Isabelle Huppert.
Prêmio: Palma de Ouro de Cannes, Globo de Ouro de Melhor
Filme de Língua Estrangeira.
Intertalent
16 rue Henri Barbusse
75005 Paris
France
16 rue Henri Barbusse
75005 Paris
France
Prezado Michael Haneke.
Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe.
Talvez você nunca leia essa carta, mas mesmo assim
endereço-a para que você saiba que há em mim, nesse longínquo Brasil, um fã de
seus filmes, do seu estilo, de suas histórias. Mesmo que digam que “Amor” é um
filme ameno perto do que você costumeiramente faz, discordo pois você sempre provoca
o caráter e desnuda o âmago que ainda resta em alguns seres humanos. Você chega
ao seu ápice de uma carreira brilhante, sólida e vivaz. É muito complexo
descrever seu estilo em poucas palavras, mas intenso é certamente uma desses
adjetivos. Você nos coloca no devido lugar, nos envolve e deixa que tomemos a
decisão. Você é uma espécie de stripper gostosa que nos deixa louco, mas que
não nos leva para a cama. Para os mais puritanos é algum tipo de deus que criou
o mundo todo, nos arremessou dentro dele e deixa que pensemos o que fazer.
Dá-nos o livre arbítrio.
Você não faz de mim apenas um expectador. Você me melhor. Me
faz pensar. O sentimento que senti após ver os primeiros créditos de “Caché”
até hoje me deixa perturbado.
Permita-me fazer algumas considerações sobre “Amor”. Você
conseguiu em um apartamento, com dois atores fazer o seu melhor filme. Não
posso (e não vou) de modo algum rejeitar ou ignorar tudo o que você fez antes, mas
aqui há um equilíbrio perfeito. Claro que a qualidade dele passa pelas escolhas
feitas. Um roteiro dramático no seu sentido mais certeiro, uma locação que
poderia ser o apartamento dos meus avós, a sua câmera ora fixa ora acompanhando
os movimentos, a música sempre imposta nos momentos ideais. E não dá para falar
de “Amor” sem falar de Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva na pele de Georges e Anne. É
absolutamente real, verdadeiro, cru, perfeito. A terceira idade só existe na
televisão, a velhice existe na vida real. E só você para novamente nos colocar diante da nossa realidade.
Falar sobre o tal amor é algo tão banal que nem podemos
compreender a extensão de um sentimento. Esquecemo-nos das dificuldades, dos
percalços, das angustias. Por falar em angustia, este ano apenas “PrecisamosFalar Sobre Kevin” me deixou tão angustiado ao ver um filme. Como você me ensinou,
não vou nem tentar definir nada. Apenas sei que os sentimentos que você me
causa são os mais profundos quando estou diante de uma película. “Amor” é um
filme que nem todos gostarão, pois nem todos estão prontos para enfrentar a
verdade. Parabéns por esta obra brilhante. Você é um gênio.
Vitor Stefano
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