Caro Diário
Nome Original: Caro Diario
Diretor: Nanni Moretti
Ano: 1993
País: Itália
Elenco: Nanni Moretti.
Prêmios: Melhor Diretor do Festival de Cannes, Melhor Filme e Músic no David di Donatello.
Ano: 1993
País: Itália
Elenco: Nanni Moretti.
Prêmios: Melhor Diretor do Festival de Cannes, Melhor Filme e Músic no David di Donatello.

Se “Isto não é um Filme” de Jafar Panahi realmente não é um
filme, “Caro Diário” simploriamente, digamos, é um diário. Diário de alguém que
gosta de anotar listas, falar e pensar sobre o cotidiano, sobre o trabalho,
sobre sua saúde. Nanni Moretti retrata em três capítulos, momentos diferentes,
de formas desiguais, mas com competência idêntica. Cada parte ao seu estilo, à
sua moda, mas sempre com muita graça. Mas em certo ponto da projeção não
sabemos mais se estamos vendo um diário filmado ou se é mais um
documentário-cine-biográfico. Sabemos apenas que parte do diário de vida do
diretor Nanni Moretti está na tela. Mas o que nos importa a vida dele?
No primeiro capítulo vemos a arquitetura, bairros
decadentes, cinemas e filmes ruins, pessoas dançando nas ruas, tudo sob o olhar
de Nanni sobre sua Vespa. Ele para um senhor na rua e pergunta o porquê ele
mora num bairro distante há mais de 30 anos, se nos anos 60 Roma era uma cidade
linda. Ele para um casal, questionando se não são os dançarinos de
“Flashdance”, uma de suas inspirações. Para numa cantoria, desce de sua
motoneta, sobe no palco e canta com a banda. Desce de sua vespa e incomoda seu
vizinho num conversível: “o problema é que os
diretores não creem nas pessoas, em seus personagens. Eu creio!”. Nanni
não está nem um pouco importando se quem vê tem interesse pelo que mostra. Não
tenho mesmo, nem para os críticos que critica durante uma das cenas. Nem que
não precise levar mais ninguém em sua Vespa.
No segundo capítulo já vemos viagens seguidas pelas ilhas
italianas em busca de paz para trabalhar e escrever o roteiro para um filme.
Das mais próximas às mais longínquas ilhotas, cada uma à sua forma, com seus
costumes. Ele acompanhado por um colega, busca a paz para conseguir escrever. Leva
recortes de casos que lhe interessaram, quer histórias dos moradores locais,
quer conhecer mais os indivíduos que querem se isolar em ilhas onde nem força
elétrica ainda tinha chegado. Um foco desse capítulo é a televisão. Este
aparelho que define a cultura de um país é duramente criticado no início, onde
seu amigo diz não vê-la há mais de 30 anos. Como um vírus, assim que a vê na
balsa de travessia entre uma ilha e outra, ele se torna televisãodependente.
Uma das ilhas os pais só tem um filho por casal. Noutra, as pessoas não
conseguem se ligar, pois ficam imitando animais com os filhos bebê que dominam
a telefonia. Na verdade, a crítica maior é pela solidão.
Já o terceiro capítulo é focado nos médicos e em suas
consultas. Nanni está com uma coceira muito forte nos braços e nos pés, o que o
está deixando muito estressado e irritado. A cada médico/hospital que se
consulta, novos métodos e soluções para o seu problema são propostos. Tenta de
tudo. Tenta mais que tudo. Nanni está enlouquecendo, sem dormir e sem saber o
que realmente fazer. Os papas da dermatologia e alergologia não falam a mesma
língua quando o assunto é curar a sua coceira. Cuidar do corpo está entre a
maior individualidade do ser. Se ele mesmo não quiser, ninguém poderá fazer por
você. Aqui vemos o melhor capitulo.
Seja no capítulo que for, háe sempre haverá idiossincrasias quanto ao entendimento do documentário ficcional.
Não haverá possibilidade de que todos vejam o sinta o que Nanni quer. Não há
como, não há essa possibilidade. Ver um diário representado por alguém que quer
contar um pouco da sua história é dar
margem para que o entendimento seja livre. Nanni não precisa contar detalhes ou
mesmo postar no Facebook o que almoçou ou que simplesmente acordou. Ele
simplesmente conta o que quer contar, diz o que quer dizer, sem medir a quem. A
vida de Nanni é um livro aberto, mas ele mostra apenas as páginas que quer, na
ordem que quiser. Nós vemos, ou não, se quisermos. Eu vi “Caro Diário”. Gostar
ou não, cada um dirá, mas só por ser Nanni, já vale a pena ver, por mais
estranhamento que possa causar.
Vitor Stefano
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