Transeunte

Nome Original: Transeunte
Ano: 2010
Diretor: Eryk Rocha
País: Brasil
Elenco: Fernando Bezerra.
Prêmios: Premio Troféu da cidade de Gramado e Prêmio dos estudantes de cinema do Festival de Gramado, Melhor filme pelo júri Jovem - Panorama internacional de salvador, Menção honrosa para Fernando Bezerra, Premio Abraccine de Melhor longa metragem brasileiro de 2011. Premio APCA – Melhor Ator (Fernando Bezerra ) e Premio melhor ópera prima no festival internacional de Guadalajara.


Erik Rocha me chamou atenção no documentário “Rocha que Voa”, onde retrata a vida do pai numa mistura de cenas resgatadas, a lembrança de Cuba e devaneios dos pensamentos do dito melhor cineasta brasileiro de todos os tempos. E durante todo o filme há nuances de poesia filmada o que me causou encantamento. O documentarista arriscou em seu primeiro filme de ficção, usando dessa beleza retumbante de sensibilidade impar ao acompanhar de perto a vida de Expedito. Comparar com o pai é impossível, não pela qualidade, mas sim pela dificuldade de comparar épocas tão distintas. Erik começa a trilhar um rumo interessante, sempre à sombra do pai, mas com brilho próprio.


Vemos por quase todos os frames Expedito. Ele não sai de nossa tela. Por vezes a tela quase o engole, ou entramos em um de seus poros na pele já judiada pela idade. Pouco sabemos do velho senhor, a não ser que é viúvo, mora sozinho e no Rio de Janeiro. Nem seu nome sabemos, pois ele se apresenta apenas aos 22 minutos do filme, onde a primeira palavra é dita. Quem está lendo e chegou até aqui, já imagina que o filme é monótono, chato, lento e sem razão. Calma, leia mais. Expedito tem em seu rádio o grande amigo. Ouve músicas, notícias e o seu Flamengo jogar. Vivemos a vida inteira para saber viver na solidão da idade. Expedito está em adaptação. Não há amigos, não há filhos, não há mais ninguém. Caminha pela cidade sem rumo definido, para num bar, vai ao Maracanã, pelo centro histórico, mas não há abertura para criar um vínculo com outras pessoas. O retorno para casa é a única certeza. Expedito quer se abrir, mas para que? A idade já está nele. A vida já passou. Agora é viver para morrer.


Mas, porque não se abrir. Fernando Bezerra vive Expedito numa atuação sublime. Seu olhar diz tudo o que não fala. Há momentos em que seus gestos me lembram o personagem de outro documentário, “Santiago” de João Moreira Salles. Não a personalidade do mordomo, mas sim aqueles gestos belos, em câmera lenta. Há em “Transeunte” um tom documental claro, onde um único personagem é retratado, mas Expedito é o retrato de milhares de idosos que chegam a um ponto da vida em que olham em seu redor e nada veem. Ao ser apenas mais um numa cidade cosmopolita, torna-se parte do cenário, parte importante, e quando não mais estiver, fará falta. Erik arrisca e acerta. Claro que é um filme para poucos, difícil, por partes monótono mesmo, mas qual vida não é monótona? A beleza do branco e preto e a câmera junto ao personagem nos dão a impressão de que Expedito é nosso avô. Por isso quem ainda tiver um, fique mais perto e não deixe que ele seja tão só.



Vitor Stefano
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