De Menor
Nome Original: De Menor
Ano: 2013
Diretora: Caru Alves de Souza
País: Brasil
Elenco: Rita Batata, Giovanni Gallo, Caco Ciocler e Rui Ricardo Diaz.
Prêmios: Festival do Rio, Melhor Atriz no Festival de Cuiabá e APCA de Melhor Fotografia.
Moleque safado. Pretinho filho da puta. Melhor prender tudo,
aliás, melhor por no paredão e matar. Não tem saída. Esse país não tem futuro,
não tem salvação. Esses ladrõezinhos no futuro serão chefes de facções, ladrões
de bancos, arruaceiros, aqueles que nos fazem ficar encarceirados dentro de
casa. Eu vou fazer um muro maior, colocar cerca elétrica, contratar um PM de
folga pra cuidar da rua, colocar uns pitbulls sanguinários no jardim para que
assim que der uma chance, esse neguinho morra logo. Um peso no mundo. Uma bolsa
família a menos. Um inútil a menos. Pra falar a verdade, eu vou pegar aquela
espingarda e 45 que estava no forro do armário na minha gaveta. A insegurança é
geral, mas não vou me calar ou me trancar. Vou fazer por valer os impostos que
pago (pago só o que declaro, mas não vamos entrar no mérito). A Justiça é
lenta! Eu vou fazer a justiça funcionar. Se por acaso tiver que matar esse
moleque alego legitima defesa... nada acontecerá comigo, até porque conheço o
delega. Eu sou cidadão de bem! Eu não vou me calar! Eu não vou me esconder!
Pena de Morte já!!!! Não me importa se maior ou de menor. Eu quero a liberdade.
A minha liberdade.
“De Menor” da diretora Caru Alves de Souza é um filme
atualíssimo. Dialoga com o assunto da maioridade penal, em voga no congresso e
na sociedade, mas sem ser didática ou política. A história começa em Santos com
a câmera acompanhando a personagem Helena entrando numa casa grande, com uma
imensa faixa de “Vende-se” na frente, adentramos os cômodos, numa clara apresentação
do terreno que veríamos. A casa tem um ar familiar, apesar do vazio. Apenas ela
e Caio, seu irmão adolescente, moram lá. Orfãos, eles tem uma ligação de muito
companheirismo, e ela, advogada, faz o papel de tutor do jovem. Somos também
apresentados ao dia a dia de Helena no Fórum na Defensoria do Juizado de
Menores. Dia pós dia casos de pequenos delitos de menores negros, favelados,
sem família, desamparados são julgados e condenados à internação na Fundação Casa.
Helena luta batalhas que sabe que perderá. Nem a amizade com o promotor
(interpretado por Rui Ricardo Diaz) alivia as condenações feitas pelo juiz
(Caco Ciocler). Enquanto isso, a rebeldia juvenil de Caio aflora. Amizades desconhecidas,
nervosismo, mentiras despertam a atenção de Helena que não mais o controla. A
parceria é desfeita. Até o ponto que vê a tensão familiar se confrontar com a
profissional. Caio é um meliante? Loiro, branco, estudado, com família. A
Justiça é impiedosa, mas é realmente justa?
Caru faz um filme de tom único e por vezes monótono do
cotidiano, mas é um filme dinâmico nos nós que constroem os conflitos de Helena
e Caio. Aliás, ótimas atuações de Rita Batata e Giovanni Gallo. É um filme
urgente. O cinema nacional consegue ano após ano dialogar com a sociedade
através de filmes inteligentes e politizados (não políticos). O filme foi o
vencedor do Festival do Rio 2013, dividido com 'O Lobo Atrás da Porta', outro
filme que escancara a violência, a maldade e o medo que inebria a atual
sociedade. “De Menor” não dá respostas, não toma partido, não escolhe lado, mas
mostra de forma aberta o que realmente ocorre no dia a dia da nossa justiça. A
favor ou contra, veja e prestigie o cinema nacional de alta qualidade.
Vitor Stefano
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