Limite

Nome Original: Limite
Ano: 1930
Diretora: Mario Peixoto e Edgar Brazil
País: Brasil
Elenco: Olga Breno, Taciana Rei,Paulo Schnoor e D. G Pedrera
Prêmio: Teddy Bear no Festival Internacional de Berlim.




Os urubus no telhado pareciam estar atrás de carniça.

Uma mulher acorrentada corrente significa Prisão. Estamos presos.

O close na cara lembra aquela cena do Buñuel do bisturi no olho.

Estamos presos.

O sol que reflete na agua, em preto e branco, lembra fogos de artifício.

 Uma mulher observa estática o nada.

 Outra também.

O homem entregue ao cansaço desistiu de remar e na ponta do barco um mulher jaz no chão, mas não está morta.

Barco a deriva no horizonte azul.


 Desolação.


Pode ser que haja várias outras interpretações para os 10 minutos iniciais de Limite, filme de Mario Peixoto produzido em 1930 e uma das maiores pérolas da história do cinema mundial, mas eu, que nada sei de poesia, sinto despertar em mim essas palavras quando diante dessa esfinge maravilhosa.

Limite é o estado em que se encontram a mulher I e II e o homem I dentro de um barco que está sem controle perambulando no mar. Mas pode ser entendido como o limite entre o cinema mudo e o falado, bem como pode ser uma metáfora sobre as condições que foram realizadas as filmagens com o orçamento provindo principalmente do próprio Mario Peixoto, que só fez esse filme. Fico a pensar o que teria sido da história do cinema se ele tivesse feito mais filmes...

Utilizando o flashback como um fim e si mesmo, somos apresentados às histórias individuais das pessoas que estão no barco. Dá pra perceber que elas estão ali só esperando alguma coisa porque tendo abandonado os remos elas apenas seguem aguardando que o  destino traga lhes traga a morte.
Limite é um daqueles filmes que vão se construindo a partir da interpretação do expectador. Nada nele é conclusivo, apreende-se os sentidos que são deixados aqui e ali para formar um todo maior. A fotografia, os enquadramentos, em tudo se vê cuidado e preocupação em transmitir uma obra prima pura, sem peso, sem exageros. Parecem ser expressões vindas diretamente da alma.

É verdade que Dziga Vertov é genial, da mesma forma o é Leni Riefenstahl. E é verdade também que o cinema soviético foi revolucionário e as vanguardas europeias quebraram vários paradigmas. Só que, por incrível que pareça nunca tinha visto, nem sequer tinham me falado da existência de uma produção tupiniquim deste quilate de experimentalismo que, a rigor, não deixa nada a desejar aos nomes consagrados da arte.

Sinal do nosso complexo de vira latas...
Não gosto de ser nacionalista, na verdade, acho esse adjetivo limitador e indicativo de falta de complexidade, mas esse tipo de produção poderia ser mais divulgada. Certamente, indicariam que nossas raízes no campo do cinema, não é só forte mas provocadora e bela.

 Glauber Rocha, teria afirmado sobre esse filme o seguinte: “limite é incapaz de compreender as contradições da sociedade burguesa” e sobre o seu diretor “ longe da história e da realidade”. O grande Glauber, nosso revolucionário do cinema novo, falhou em perceber que a revolução se dá em várias frentes e cada qual destrói uma classe específica. Limite é uma revolução para os sentidos.

Não vou contar a história do filme, até porque acho que isso seria muita pretensão minha. Limite não veio pra ser contado, mas pra ser sentido e por isso eu resolvi fazer esse texto pra dizer pra você:  “Ei, Limite, é uma coisa linda de bonita!”.

Fernando Moreira dos Santos
Sessões de cinema

Comentários

Postagens mais visitadas