Moonlight – Sob a Luz do Luar


Nome Original: Moonlight
Ano: 2016
Diretor: Berry Jenkins
País: EUA
Elenco: Mahershala Ali, Naomie Harris, Trevante Rhodes, Ashton Sanders, André Holland, Alex R. Hibbert, Jharrel Jerome e Janelle Monáe.
Prêmio: Oscar de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante (Ali), Globo de Ouro de Melhor Drama, Melhor Roteiro Adaptado pelo Writers Guild Awards e Screen Actors Guild Awards de Melhor Ator Coadjuvante (Ali).

i. Little


Ser criança é felicidade sem tamanho. Ser livre e sem filtros. Sem preocupações e sem obrigações a não ser sorrir e estudar. Mas Little é negro da periferia de Miami. Sua mãe é viciada em crack e não dá o carinho necessário ao pequeno e franzino jovem. Ele é perseguido pelos seus colegas de escola, num habitual bulling. Numa fuga de uma perseguição desses “amiguinhos” ele se depara com Juan, o traficante da região em que vive, que numa atitude carinhosa e amorosa cuida dele para que não seja atacado. Juan torna-se uma espécie de figura paterna que lhe falta. O pequeno pouco fala. Talvez o peso da vida já lhe cause mudez. Talvez ele apenas tenha perguntas demais e não sabe como começar. Falta orientação. Falta carinho. Na verdade, falta amor. Numa das poucas perguntas que fez a Juan define bem o que Little vive: “O que é boiola?”. O pequeno Chiron vai crescer – pois o tempo é cruel - sem ter tido a infância como deveria. A única certeza é que o adolescente terá muitos problemas.

ii. Chiron


A adolescência já é complexa por natureza. Ser adolescente sem ter tido infância, sem ter tido pai, sem ter mãe presente, sem ter base é quase viver numa guerra. E não estamos falando de tiros, opressão policial pela questão de raça ou das guerras às drogas. É uma guerra interna que te obriga a se tornar adulto mesmo sem ter certeza de quem é ou o que quer da vida. Viver como Chiron vive, perseguido, com dúvidas sobre sua sexualidade, sobre quem realmente é, faz com que todo o peso do mundo recaia sobre seus ombros nas noites em que sua pele escura é vestida de azul pelo luar. Um toque de carinho é uma dádiva quase divina num corpo imaculado, numa mente pura, num futuro inexistente. Os sentimentos à flor da pele fazem com que atitudes sejam tomadas no impulso. Não podemos julgar já que o futuro não é algo possível. O futuro para jovens como Chiron é estar vivo no minuto seguinte.

iii. Black


Com físico avantajado, dentes de ouro, carrão envenenado, identificamos que Chiron mudou. Ao menos por fora é um touro, um homem imponente e uma pessoa dura. Já longe de Miami, o ex-presidiário é traficante, uma espécie de novo Juan. Apesar dessa nova casca, seu olhar não nos engana. O pequeno Little está lá dentro, aprisionado num corpo que apenas cresceu para aguentar as cobranças e exigências do mundo. Não, não mais o amedrontarão com ameaças ou com chantagens. Black agora sabe se defender, sabe impor limites, sabe viver um dia após o outro, mas os dias que passaram nunca sairão de sua cabeça. Quem é? Quem foi? O que será? Um dia após o outro.

Little/Chiron/Black. 3 atos que fazem de “Moonlight” um dos melhores filmes dos últimos anos. Perto do final do filme há uma pergunta que surge diretamente ao personagem principal: “Quem é você?”. É exatamente isso que permeia toda fita. Sem estardalhaços a trama é desenvolvida sem maniqueísmo barato ou apelação dos eventos críticos que ocorrem na vida de Chiron. Apenas acompanhamos três momentos de sua vida e por sua introspecção, não temos tudo de mão beijada, nem temos todos os detalhes, mas no seu olhar conseguimos ver. E no olhar dos 3 atores que interpretam o personagem –escolhas absolutamente acertadas de 3 novatos-desconhecidos para interpretar um personagem tão grandioso – podemos ver que a sina de Chiron é mudar de nome e de vida, mas a essência não muda. É necessário destacar os coadjuvantes Ali e Harris em atuações belíssimas e impactantes como Juan e mãe de Chiron. Berry Jenkins consegue expor a realidade das drogas, do bulling, do preconceito racial e da homossexualidade numa Miami que normalmente nao vemos de forma tão sutil e não apelativo, que faz com que acabemos o filme percebendo que não é impossível fazer um filme com tais assuntos caia nos clichês. Ele fez. É um filme grandioso, delicado e potente. Como a vida. Uma confusão eterna.


Quem é você? Não sei. Não sei quem sou, não sei quem serei, só sei que a minha confusão me define. A minha intensidade me engole. Minhas certezas me definem nessa indecisão diária, sem saber por onde ir. Mas seguirei indo na espera da esperança. No amor de amar sem saber se é recíproco, se é possível. Só sei que é real, pois sinto... E é forte...

Nota: 9

Vitor Stefano
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